CRÓNICAS

Crónica da corrida do Colete Encarnado – Palha e Tomás Bastos Superaram-se.

Crónica da corrida do Colete Encarnado – Francisco Palha e Tomás Bastos superaram-se

Vila Franca tem outro sabor com a festa maior do Ribatejo, o Colete Encarnado. Nestes três dias, o campo vai à cidade e traz consigo a figura do Campino – homem nobre e ímpar da Lezíria e do Ribatejo. O campino, o toiro e o cavalo constituem a simbiose entre a identidade e a cultura local. A cidade veste-se de cores aguerridas e as janelas engalanadas. Há alegria na rua!

As manifestações taurinas fazem parte da identidade vilafranquense. As esperas e largadas de toiros são cada vez mais, uma atração para quem visita Vila Franca. Os curiosos e os espontâneos testam as suas capacidades e põem à prova a sua coragem.

Chega um dos pontos altos das Festas do Colete Encarnado, a corrida de domingo. Ali, na castiça praça, junto ao rio Tejo, dá-se início ao espetáculo. O público vai-se acomodando nos seus lugares e iniciam-se as cortesias.

Os toiros de Ribeiro Telles estavam díspares de apresentação e de comportamento. O 3º, ovacionado de saída, foi injustificadamente premiado com volta para o ganadeiro. 

Os novilhos de Paulo Caetano, também díspares de apresentação, exibiram nobreza e classe, ainda que tenham vindo a menos com o decorrer das lides.

Na lide a cavalo, a tarde foi marcada por um toureio convincente e consistente de Francisco Palha. A forma como lidou os seus oponentes é de louvar. Na vida, não há impossíveis e no toureio tem de haver argumentos para contornar as dificuldades que o oponente apresenta. Francisco Palha mostrou a essência do seu toureio.

No primeiro, o ínicio da lide foi de grande impacto. Apontou dois compridos e o primeiro ferro curto sérios e poderosos. Após a cravagem, do primeiro curto, sofreu uma enorme queda, sem consequências. Mesmo assim, a lide prosseguiu com a cravagem de 4 ferros curtos de mérito. No segundo, outro toiro que apresentou dificuldades, ao qual o cavaleiro realizou uma lide de labor, entrega e poder de nível elevado.

João Telles Jr., assinou duas atuações de conteúdo semelhante. Na sua primeira, frente a um toiro sobrado de forças, praticou um toureio de praça a praça, com reuniões a quiebro, com destaque para o 4º ferro curto. No segundo, a lide não passou de correta. A parte final deixou o público galvanizado, com a cravagem de dois ferros curtos, montado no cavalo estrela, o “Ilusionista”, colocando dois ferros, o 1º de pôr o público de pé.

Nas pegas, o grupo de Vila Franca realizou uma tarde brilhante e eficaz. A arte de pegar toiros, a raça e o crer a ambição que demonstra o forcado vilafranquense. Todas as pegas foram efetivadas à 1ª tentativa, com o grupo a mostrar-se muito coeso nas ajudas e saber interpretar os oponentes que tinham por diante. Foram caras o cabo Vasco Pereira, dando exemplo e assumindo a responsabilidade, João Maria Santos, na sua despedida de forcado, Lucas Gonçalves com uma soberba 1ª ajuda de Rodrigo Dotti, um elemento que se revela preponderante nas 1º ajudas e finalizando a prestação Rodrigo Andrade, numa boa pega.

No fim da lide cavalo, atuou o novilheiro Tomás Bastos, lidando dois novilhos de Paulo Caetano. Nas duas atuações, demonstrou uma grande capacidade artística e uma vontade em triunfar. Andou variado de capote, dando uma amostra do seu toureio. Ao primeiro, lanceou vistosamente à verónica e, ao quite, rubricou umas gaoneras de bonita execução. No segundo, as chicuelinas que desenhou foram cheias de arte.

Na muleta, ainda que os toiros não tenham durado muito, mostrou a essência do toureio que leva por dentro. Nos dois toiros, praticou um toureio profundo, com as séries com a mão direita a serem de arte e temple. No segundo, quando submeteu os derechazos, com a mão baixa, viu-se uma amostra do recorte artístico.

A praça Palha Blanco preencheu-se cerca ¾ fortes de casa. 

Dirigiu a corrida, o delegado técnico Tiago Tavares, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva. Mostrou um critério despropositado, ao mostrar lenço azul, no terceiro toiro da corrida. Com meia dúzia de palmas, já se premeia volta para o ganadero? Parece que é o público que manda na corrida. 

Duarte Viegas

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