Rui Salvador – Uma Despedida emotiva e de sentimento
Quis o destino que a vocação de Rui Salvador estava predestinado para o toureio. Foi aquele cavaleiro que marcou uma geração, pela forma como toureava, a classe e a raça que impunha ao toureio e como pisava terrenos de compromisso, sendo apelidado do cavaleiro dos “ferros impossíveis”. Tornou-se numa referência no nosso toureio a cavalo à portuguesa.
Na temporada da sua despedida, Rui Salvador comemorou a bonita efeméride de 40 anos de alternativa. A corrida fica marcada por uma carga emocional e emotiva. O público esteve com o toureiro, tributando enorme ovação.
No final da segunda atuação, ficou registado o ponto alto da noite. Rui Salvador dá uma segunda volta à arena de lágrimas nos olhos, com o público de pé rendido ao toureiro, tributando uma enorme ovação. Antes de sair da arena, deixou o tricórnio e a casaca na arena, como forma de simbolizar a sua despedida desta arena.
Ao intervalo, a empresa e os dois grupos de forcados em competição entregaram ao cavaleiro lembranças simbólicas da efeméride assinalável. A ganadaria do Dr. António Silva foi homenageada também pela empresa, pelo cumprimento do 80º aniversário da fundação da ganadaria, que toma antiguidade a 26 de Junho de 1944, precisamente nesta mesma onde o curro de toiros. Para último, foi lembrado o forcado José Jorge Pereira, antigo forcado de grupos como Montemor, Lisboa e Santarém.
Os toiros do Dr. António Silva estavam bem apresentados, cumprindo jogo diverso, sendo exigentes e de maior mobilidade. Os mais complicados os toiros lidados em 6º e 7º lugar. O toiro que abriu praça foi excessivamente premiado com volta à arena.
Rui Salvador apresentou um toureio, cujo denominador tónico foi a classe, a elegância e a maestria. Na primeira atuação, brindada ao apoderado de toda uma vida, José Carlos Amorim, a lide veio a mais e o público esteve entregue ao toureiro. Destaque para a fase final com a cravagem de dois ferros curtos e um violino a pisar terrenos de compromisso, que pôs o público de pé. No segundo, o último lidado na praça onde veio a receber o seu doutoramento, mostrou um grande ofício e enorme maestria, desenvolvendo uma atuação de valor.
Rui Fernandes teve duas lides distintas. A primeira, de muita competência e a saber escolher os terrenos adequados para cravar, destacando-se a fase de curtos, com muito mérito. A segunda atuação fica marcada por alguns toques na montada e passagens em falso, acabando por manchar a sua atuação.
Francisco Palha sofreu do mesmo mal do companheiro de cartel. Mostrou duas atuações distintas, mas os ferros da noite foram cravados por ele. A primeira atuação foi marcada por mérito e convicção que cravou os ferros. Abriu com uma imponente sorte de gaiola, mas a sua lide fica realçada com a cravagem do 3º e 4º ferros curtos, de boa nota. A segunda atuação foi de menos relevância, já que o toureiro teve problemas na cravagem dos ferros curtos, resultando em várias passagens em falso e toques na montada.
Miguel Moura apresentou bons pormenores de toureio nos seus toiros, mas não chegaram a ser de impacto. Frente ao primeiro, abriu com uma impactante sorte de gaiola e com a restante lide a ser bem desenhada na brega e no remate das sortes. No segundo, a atuação foi convincente, apresentou um sentido de lide de nível. O último ferro curto e os dois ferros de palmo com que encerrou a atuação foi de boa nota.
Os forcados de Évora e Coruche tiveram uma noite positiva, menos no último que apresentou problemas e que deu “água pela barba” para ser pegado.
O grupo de Évora mostrou coesão nas ajudas e com os forcados a não complicarem. Pegaram João Madeira à 1º TNT, José Maria Passanha à 2º TNT, João Cristovão à 1º tentativa e o cabo José Maria Caeiro à 1º tentativa, mostrando ofício.
O grupo de Coruche também mostram grande atitude e valor. Pegaram Tiago Gonçalves à 1º tentativa, João Formigo à 2º tentativa, com um toiro que derrotava no momento da pega, António Tomas à 2º tentativa e o cabo João Prates à 4º tentativa, acabou por pegar o toiro a sesgo.
Dirigiu a corrida, o delegado técnico Ricardo Dias, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva. Mostrou competência e seriedade no critério de atribuição de música, pecando por dar lenço azul ao toiro que abriu praça.
No final da corrida, Rui Salvador acabou por dar mais uma volta à arena, levado em ombros pelos seus companheiros de cartel, num momento de grande companheirismo.
Rui Salvador é um toureiro que vai deixar saudade nas nossas arenas.
Duarte Viegas
