CRÓNICAS

 Sentimento de Portucalidade- Por : Duarte Viegas

O Campo Pequeno registou lotação esgotada, com cinco dias de antecedência. 

 Nos tempos que correm, é difícil cumprir tal feito. Dá que pensar e pode tirar-se muitas conclusões. 

Tem de se dar mérito ao empresário pelo arrojo com que montou este cartel. Era a corrida mais rematada do abono lisboeta.

Pablo Hermoso de Mendoza é um nome incontornável no toureio a cavalo. 

Desde cedo, aprendeu a admirar as figuras de mestres na arte de tourear, como Manuel Vidrié e João Moura. A partir daí, Pablo construiu a sua carreira com base na estética, consolidando-se como número um do toureio a cavalo. A sua história a Portugal é inteiramente ligada a uma praça, que sempre o tratou com carinho e admiração, o Campo Pequeno. Criou uma ligação afetiva, idolatrando como a “catedral do toureio a cavalo”. A forma como  dirigiu-se ao público, dedicando a sua última lide nesta praça, foi de louvar. O momento constituiu um dos pontos altos da noite com  ovação de pé pelo público.

Durante o  intervalo da corrida, ocorreu uma exibição equestre pelos cavaleiros da Associação Portuguesa dos Criadores de Cavalo Puro Sangue Lusitano , APSL, liderados pelo conhecido equitador Miguel da Fonseca. No final, Pablo Hermoso foi acariciado com a guarda de honra., e, de seguida, homenageado pela sua trajetória pela direção da APSL e pela empresa gestora do Campo Pequeno.

Os touros de António Charrua saíram dispares de apresentação e de jogo, foram pobres de alma e espírito. Sem força e de pouca transmissão, propícios para o toureio de Pablo Hermoso. O jogo de cabrestos enviado para o Campo Pequeno foi um autêntico escândalo. Eram ovelhas mertolengas sem qualquer presença.

António Telles protagonizou os melhores momentos de toureio da noite. As suas lides não foram redondas, mas teve apontamentos ligados ao seu conceito. Os seus dois touros tiveram um denominador comum: vieram a menos. A sua primeira atuação foi convincente. Desde cedo, compreendeu o toiro que tinha por diante e interpretou muito bem o seu toureio. Inicialmente, apontou um primeiro ferro comprido de boa nota e o 1º ferro curto de destaque. Se a primeira atuação convenceu, a segunda, foi uma lição de cátedra. De saída, deu primazia aos ferros compridos, cravando três compridos de grande nota, deixando o toiro partir de largo para o cavalo. Destaque para o terceiro comprido, onde executou a “sorte da morte”. Toda a sua lide foi uma lição de maestria e ofício e a série foram cravados em estado puro, como mandam as regras. O 1º ferro curto e as duas últimas bandarilhas com que encerrou a função foram de boa nota.

Luís Rouxinol registou duas atuações desiguais. A primeira atuação não passou de correta, sem grandes alardes. A segunda lide foi de mais a menos. Os dois compridos e os dois ferros curtos no ínicio da atuação foram de destaque. Depois, a atuação desceu o nível para finalizar em bom plano com a cravagem de um bonito par de bandarilhas e um ferro de palmo.

Pablo Hermoso de Mendoza também teve duas atuações distintas. A primeira lide correta, com o rejoneador a praticar o seu toureio. Faltou imaginação para algo mais. O último toiro que lidou, deu uma lide, que rapidamente chegou às bancadas. O toiro não transmitia, foi o pior do curro apresentado. A atuação foi baseada sobretudo no seu apanágio de toureio, ladeios, brega e vistosas hermosinas. Na série de curtos, destaque para o 3º e 4º ferros curtos.

A noite foi também de triunfo para o grupo de Lisboa. Na Monumental de Cascais, a 14 de Agosto de 1944, foi fundado o grupo de forcados de Lisboa, comandados pelo lendário Nuno Salvação Barreto. 80 anos de atividade interrupta, dignificando a figura do forcado amador além fronteiras. A efeméride dos 80 anos do Grupo de Lisboa foi homenageado durante as cortesias, com tributo ao grupo em si e ao antigo cabo, uma grande figura da forcadagem lisboeta, José Luís Gomes. Foram entregues lembranças por parte do vice presidente da camara de Lisboa, Felipe Anacoreta Correia, o vice presidente do partido CDS-PP, Telmo Correia, o antigo secretário de estado da cultura, Elísio Summavielle e o antigo presidente da camara de Lisboa, João Soares, que enquanto esteve à frente da edilidade promoveu a cultura tauromáquica.

Os forcados estiveram todos em bom plano, os toiros não complicaram, apesar do trapio apresentado. Realizaram 5 pegas à 1º TNT por intermédio Nuno Fitas, Tiago Silva, Miguel Santos, João Varandas e Duarte Mira. A última pega foi protagonizada à 2º TNT por intermédio do cabo Pedro Maria Gomes.

Dirigiu a corrida o delegado técnico, Ricardo Dias, assessorado pelo médico veterinário, Dr. Jorge Moreira da Silva.

No final da corrida, Pablo Hermoso foi passeado em ombros pelos cavaleiros Francisco Palha, Rouxinol Jr. e António Telles filho, que saltaram a trincheira de “espontâneo” para o “homenagear” .

Compreendo toda a emoção, mas uma atitude destas, tem de ser refletida. Não podemos negar o que Pablo Hermoso, importou ao toureio a cavalo. Foi uma ação de puro triunfalismo, sair pela porta grande do Campo Pequeno. A  atitude passiva entre o empresário e o diretor de corrida foi notória.

Duarte Viegas – Porta dos Sustos

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