Vai por ti, MANUEL MARIA!
Escrevo esta crónica num dia em que a tauromaquia acordou mais pobre. Ontem, no Campo Pequeno, Manuel Maria Trindade, jovem forcado dos Amadores de São Manços, bateu pela última vez as palmas a um toiro.
Forcado de todos os toiros, foi sem dúvida um dos forcados mais valentes da sua geração. Com uma garra acima da média, enfrentou com a mesma galhardia todos os toiros ao longo da sua vida enquanto forcado.
Foi isso que fez ontem na primeira praça do país. Diante do primeiro da ordem, um Vinhas com 695kg, o Manel entrou em praça com a determinação de sempre. Citou, mandou no toiro, fechou-se para ficar, mas sofreu um violento embate na trincheira que lhe roubou a vida de forma tão prematura.
Partiu a fazer aquilo que mais amava, pegar toiros com a jaqueta do seu Grupo de São Manços.
Na memória de todos os aficionados ficam todas as obras de arte que realizou na cara dos toiros. A sua arte irá perpetuá-lo para sempre como Toureiro de verdade que foi, é, e sempre será na memória de todos os que tiveram o privilégio de o ver bater as palmas a um toiro!
Da tauromaquia fazem parte a glória e a tragédia. Ontem foi um dia trágico em que o Manuel Maria Trindade alcançou a glória dos eternos!
Na corrida de ontem foram homenageados Ana Batista pelos seus 25 anos de Alternativa, Filipe Gonçalves pelos 20 anos de Alternativa, o Grupo de Forcados Amadores de São Manços pelos 60 anos de existência, os Amadores de Monforte pelos seus 25 anos e foi também homenageado a título póstumo o Dr. Luís Vinhas no ano de comemoração dos 75 anos da ganadaria Vinhas.
No que diz respeito ao toureio a cavalo, abriu praça João Pamplona que com uma lide bastante digna confirmou a sua alternativa.
Ana Batista realizou a lide da noite, cravando ferros de muita verdade ao segundo da ordem.
Filipe Gonçalves teve uma lide algo irregular, alternando ferros corretos com algumas passagens em falso.
Manuel Telles Bastos esteve bem, dentro do seu habitual estilo clássico. Abriu a lide com um bom ferro em sorte de gaiola.
Andrés Romero enfrentou o melhor toiro da corrida e deixou bons apontamentos de brega ladeada.
António Prates viu o seu toiro, o mais pesado da corrida, sair debilitado dos curros, pelo que se trocou a ordem de lide. Frente ao sétimo da ordem, realizou uma lide a mais, destacando-se nos remates das sortes.
Joaquim Brito Paes enfrentou-se com um toiro com crença nas tábuas. Cravou a ferragem da ordem com acerto, com destaque para o último curto a sesgo com o toiro a meter a cara alta.
Fechou a noite António Telles filho diante de um toiro com crença nos médios ao qual deu a volta. Lide positiva a confirmar o bom momento que atravessa.
Noite dura para os quatro grupos alentejanos que disputaram o Concurso de Pegas.
Por São Manços Martim Moreno teve a difícil tarefa de dobrar Manuel Trindade e consumou à terceira tentativa. Duarte Teles fechou a atuação do grupo de São Manços à primeira tentativa.
Pelo Real de Moura Gonçalo Caeiro e Rui Branquinho consumaram ao primeiro intento.
Por Monforte, Gonçalo Parreira consumou à quinta a pega ao terceiro da ordem. Luís Vieira concretizou à terceira a derradeira pega da formação do alto Alentejo.
Francisco Patanita abriu a atuação dos Amadores de Beja com uma boa pega ao primeiro intento. Fechou a noite Miguel Pavia ao terceiro intento, a dobrar as duas tentativas iniciais de Fernando Caixinha.
No final, Francisco Patanita, cabo dos Amadores de Beja, venceu o prémio em disputa para a melhor pega.
Os toiros da Ganadaria Vinhas estavam bem apresentados, mas foram no geral complicados. Destaque para o quinto da ordem, que investiu com classe e humilhação, sendo premiado com lenço azul.
Dirigiu a corrida Rúben Fragoso, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva.
Termino endereçando as mais sinceras condolências à família do Manuel Trindade e a toda a família do Grupo de Forcados Amadores de São Manços.
Tiago Correia