CRÓNICAS

Roca foi Rey no Campo Pequeno

O Campo Pequeno viveu uma noite diferente. A presença do número 1 do toureio a pé mundial, Andrés Roca Rey, gera uma grande expetativa entre os aficionados. Prova desse facto é a lotação esgotada três dias antes do espetáculo.

Contudo, a sua forma de tourear gera alguma controvérsia. Há diferenças entre artistas e artífices. Os artistas têm por base um toureio de arte, com cadência. Os artífices têm na sua génese um toureio que chegue ao público com facilidade. Então aqui entra o caso de Roca Rey.

Roca Rey é um toureio de massas. Nos carteis que está anunciado, são muitos os aficionados que têm interesse em ver o seu toureio. Porém, as suas faenas têm sempre a mesma estrutura e como diria o maestro Morante de La Puebla: “Un buen artista nunca debe de repetir la misma faena. Hoy en dia, los toreros muchos llevan una faena preconcebida y a lo público lo aburre – mas nunca vi os aficionados ao toureio de Roca Rey, saírem aborrecidos da praça. Porque é que será?”

O ínicio da corrida foi emotivo e de grande simbolismo. Nas cortesias, os grupos de forcados de Alcochete e Aposento da Moita entraram na arena carregando aos ombros a jaqueta do grupo dos Amadores de São Manços e exibiram um cartaz de homenagem ao forcado Manuel Trindade, que perdeu a vida na corrida de dia 22 de Agosto, nesta mesma arena, com a mensagem: “Vai por ti Manuel Trindade!”.

Foram lidados toiros de António Raul Brito Pais para a lide a cavalo e para a lide a pé de Garcia Jimenez e Garcigrande. Todos os toiros estavam bem apresentados. Em termos de comportamento, foram desiguais dentro dos seus encastes.

Francisco Palha assinou duas atuações importantes. As suas lides foram pautadas com muita cadência e de bom sentido de lide. Destacou-se na cravagem de ferros curtos de grande qualidade, esperando e aguentando a investida dos toiros. Na primeira lide, o 1º e 4º ferros curtos foram de grande nota, mas sobressaiu mais o último ferro curto. Na segunda lide, o 2º ferro foi um ferro de grande qualidade.

Guilhermo Hermoso de Mendoza teve duas atuações distintas. A primeira lide foi de bom nível. Montado no cavalo Berlín, destacaram-se hermosinas de grande qualidade artística que puseram o público de pé. A segunda atuação foi correto e sem grandes alardes de destaque.

Nas pegas, os grupos de forcados amadores de Alcochete e Aposento da Moita estiveram eficazes, pegando à 1 tentativa. Os forcados da cara fecharam-se bem nos toiros, aguentando, alguns derrotes durante a viagem.

Pelo grupo de Alcochete foram caras Vitor Marques e Miguel Direito.

Pelo grupo do Aposento da Moita foram caras André Silva e o cabo Luís Canto Moniz.

Andrés Roca Rey era a figura central da noite lisboeta. Construiu as suas faenas num toureio muito medido e de conteúdo muito semelhante. Esteve entregue toda a noite.

Ao seu primeiro, realizou uma faena assentada. Toureou ao natural de forma repousada e sem exageros. Mostrou disposição, diante de um toiro reservado e muito agarrado ao piso.

No seu segundo, um toiro diferente do anterior, não mudou muito a sua forma de tourear. O toiro tinha nobreza, mas notava falta de força. Daí que a faena tenha perdido alguma emotividade devido à escassez de transmissão do astado.

Dirigiu a corrida o delegado técnico Ricardo Dias, assessorado pelo médico veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva.

Foi guardado um minuto de silêncio em memória do matador Manuel dos Santos, no centenário do seu nascimento; do forcado Manuel Trindade, do Grupo de São Manços, que faleceu vítima de colhida na corrida de dia 22 de Agosto; do forcado Joaquim Mendes, do grupo do Aposento da Chamusca; do antigo forcado Carlos Galamba, e das vítimas do acidente do Elevador da Glória.

Ao intervalo, foi prestada uma homenagem a título póstumo ao matador Manuel dos Santos, no centenário do seu nascimento.

Duarte Viegas

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